A Senhora das águas doces e da beleza

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Era uma vez lá na África, há muitos e muitos anos, vivia uma senhora chamada Oxum. Oxum, a conhecida senhora das águas doces. Mulher muito elegante e vaidosa gostava de tudo que era bonito: belas roupas, bonitos penteados, perfumes, e tinha paixão por joias. Atenta à sua beleza estava sempre admirando sua beleza no espelho.

Quando amanhecia o dia, Oxum já estava mergulhando no rio, banhando-se para enfeitar-se com suas joias. Na verdade, antes mesmo de lavar as suas crianças, ela lavava as joias.

Mas um dia, que surpresa desagradável! Oxum acordou, levantou-se com o primeiro raio do sol e quando destampou o baú das joias, ele estava vazio. Não havia uma só peça. O que teria acontecido? Oxum botou a mão na cabeça. Andava de um lado para outro enquanto pensava: quem levou minhas joias?

Assustada ela chorava muito. Deu uma volta em torno da casa e pode ver dois homens que se afastavam correndo. Cada um deles levava um saco que, com certeza, eram suas joias. Oxum pensou rápido: – eu preciso agir. Ela pensou logo e executou.

Foi à cozinha, pegou uma quantidade d feijão fradinho, amassou bem e colocou numa panela. Ali acrescentou cebola amassada e uma boa quantidade de camarão seco, pisado no pilão. Por fim ela botou também "epô", (azeite de dendê) e misturou tudo até que se transformou numa massa bem gostosa.

Enrolou pequenas porções em folhas de bananeiras passadas no fogo. Arrumou tudo numa panelinha e cozinhou.

Depois de cozida esta gostosa comidinha, ela arrumou tudo no tabuleiro bem bonito e saiu em busca dos ladrões, cantando para espantar as suas preocupações.

Não foi difícil. Ela sabia exatamente por onde eles iam passar. Sentou-se com tranquilidade, esperou os dois ladrões. Não tardou, eles apareceram cumprimentando Oxum na maior desfaçatez.

- Kuwaró! (bom dia).
- Kuwaró ô! (bom dia).
- Que belo dia! Que bom encontrar companhia por aqui. Como estamos contentes de encontrar a senhora.
- Ótimo. Então vamos parar de conversar um pouco. Querem comer? Hoje fiz uma comida de minha predileção. Wa unjeum? (convite para refeição).
- Hum… Bem que a gente estava sentindo esse cheio tão bom!
Os homens entreolharam-se confiantes e falaram baixinho:
- Esta senhora é tão bonita… mas parece muito bobinha.
- Pois é, nós tiramos todas as suas joias, e ela ainda quer dividir a sua comida com a gente. É tola mesmo.

Os homens não esperaram outro convite e avançaram nos abarás e comeram sem a menor cerimônia, até caírem adormecidos um para cada lado.

Ai neste momento, Oxum aproveitou, tomou os dois sacos cheios de brincos, colares, anéis, pentes, pulseiras e prendedores de cabelo. Ela pegou tudo rápido, enfeitou-se toda e saiu cantando pelo caminho de volta para sua casa.

Iya omi bu odomi ró Orixá ó le le
Iya omi bu odomi'ó Orixá o le le
E ó be rê o o be rê o
O iná be ko ina ina

PETROVICH, Carlos & MACHADO, Vanda. Irê Ayó: Mitos Afro-brasileiros - Salvador: EDUFBA, 2004 p.73

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