Introduzindo Atransdisciplinaridade: Uma história da criação do mundo

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“Oludumare quando pensou em criar o mundo chamou todos os seus filhos para ajudar. Cada um dos seus filhos levou consigo o que era necessário.

Ogum escolheu levar uma espada mágica, um saco de terra preta e uma galinha d’Angola.
Ogum andou muito até encontrar o local onde seria construído o mundo. No local exato já havia uma palmeira. Ogum se aproximou e logo se acomodou bem no alto, cobrindo-se com o mariô . Mariô são as folhas mais novas da palmeira.
Neste momento começou a cair uma chuva muito forte. Parecia que não parava mais de chover. A água começou a subir. Ogum abriu o saco que continha uma matéria preta e jogou na água. Depois ele deixou cair a galinha d’Angola que rapidamente começou a espalhar a terra com os pés. Aí se formou uma grande extensão de terra a perder de vista. 
Ogum ficou olhando os pés da galinha e logo se inspirou para fazer um instrumento para lhe ajudar nas plantações. O seu reino recém-criado ficou cada vez mais prospero. Um dia os seus irmãos chegaram também e quiseram dividir a terra. Ele pegou sua espada mágica e espantou a todos que queriam dividir a terra entre si porque a terra não tem um dono, a terra é de todos.”

Um conto mítico não precisa da moral da história. O mito nos faz pensar naturalmente na vida e em muitos aspectos das ciências, da história e cultura afro-brasileira.
Educar pela cultura implica em compreender a relação entre a história, a memória e as culturas ancestrais do lugar. É reconhecer que todo acontecimento do cotidiano é histórico, original e repleto de possibilidade embora nem sempre trazendo bonitezas para a vida. Educação pela cultura pode se constituir no caminho mais próximo para contemplação, encantamento e consciência cultural. Na educação, fazemos uso do pensamento lógico que é prático e racional, mas que não consegue responder as questões relativas a princípios e valores no caminho para o amor, a ética e a solidariedade. A mediação é para agregar subsídios que alimentem o desenho transdisciplinar, desenvolvendo a percepção integrada do mundo onde se incluem também os vínculos afetivos. “O rigor transdisciplinar é da mesma natureza que o rigor científico”. (Nicolescu, 1999, p130).
Educar é levar em consideração não apenas as coisas ou determinados assuntos, mas todos os seres e sua relação com os outros seres, coisas e assuntos. No ambiente escolar, é importante considerar cada ideia, cada assunto que se faz presente, integrando-os na base de conhecimentos, organizando representações simbólicas, promovendo o diálogo entre a história, a memória, a arte e as ciências.
O pensamento fragmentado das grades curriculares é incompatível com a construção de conhecimentos na busca da formação do sujeito integral. Uma cultura de convivência pede uma compreensão transdisciplinar no fazer educativo. Aí, é que o cotidiano do lugar se faz extraordinário e importante para educação pela cultura. 

Por outro lado, a metodologia da transdisciplinaridade não substitui a metodologia de cada área do conhecimento que permanece como é nas suas variáveis oportunas. Um aspecto essencial da transdisciplinaridade é despertar a curiosidade para o conhecimento que atravessa cada disciplina. A proposta transdisciplinar para os mitos que contamos tem como objetivo ligar conhecimentos e saberes com alegria. Ligar tecendo fios que se combinam estabelecendo pontos para a formação do sujeito integral. 
O mito, que seria do campo da literatura, nos remete a várias pesquisas que dizem respeito à história, memória, geografia, à cultura das artes e das ciências na escola. Nesse contexto, se faz necessário juntar os dois hemisférios do cérebro deixando nascer a subjetividade humanizante na educação com a capacidade de mobilizar o educando para a vontade de saber, vontade de perguntar e de contar o que já sabe. Estamos em mudança. Mudança pessoal, mudança epistemológica e mudança também pelo conhecimento intuitivo. Ainda é um pressentimento, um pré-sentimento, talvez um sentimento antecipado do que poderá dar certo. Esperamos.


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Dom Oba II da África – Um Herói desconhecido

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Hora do desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro, ano 2000. Eis que surge majestosamente a Estação Primeira de Mangueira e anuncia o seu enredo, Dom Obá II da África: Rei dos Esfarrapados e Príncipe do Povo. Quem foi afinal este homenageado?  A narração do desfile apresentou uma parte importante da nossa história, mais precisamente história da África, do Brasil, da Cidade de Lençóis na Chapada Diamantina no Estado da Bahia, a saga da volta de negros da 3ª. Companhia dos Zuavos Baianos da Guerra do Paraguai e a luta inglória destes retornados e a luta para a inclusão na Guarda Nacional sem sucesso. Nosso herói foi descrito e retratado como um cidadão negro, alto, elegante, fraque, cartola e luvas, bengala e guarda chuvas. Sua postura era de uma árvore frondosa que se alimenta da terra cheia de diamantes. Príncipe dos negros livres, neto de Abiodun, último soberano, do reino de Oyó na Nigéria, reino de Xangô. Publicava em jornais da cidade. Era quase uma celebridade do seu tempo. 

Obá significa rei na língua ioruba. Ele nasceu em Lençóis, “onde diamantes eram encontrados aos punhados”. Jornalista e militar brasileiro. Dom Oba assistiu muito disputa política entre os coronéis Sá e Calmon. Dom Obá viu muito diamante sair de Lençóis para a Europa.  Diante do chamado para a Guerra do Paraguai Dom Oba não hesitou em defender a pátria. D. Obá embarcou no sonho de defender a pátria, sua própria liberdade e de seus irmãos. O negro escravizado que fosse para guerra se não fosse entregue aos abraços da morte que os aguardava quase que inexoravelmente, podia voltar alforriado. A sua luta era para superar o miserável status imposto pela sociedade escravista.
Galvão juntou-se a outros jovens do lugar e lá se foi para a guerra  como alferes. O seu batalhão vestia uniforme inspirado nos regimentos dos zuavos franceses da Argélia. No infeliz teatro da guerra os zuavos baianos chamava atenção por seu garbo e por que todos eram negros até mesmo os oficiais. O conde d´Eu, marido da princesa Isabel louvava a bravura e a beleza da tropa como “ a mais linda de todo exercito brasileiro”.

O herói volta para casa
Difícil é compreender a situação dos nossos heróis. Imagine, que a volta dos voluntários era vista como um perigo a paz e a segurança públicas. O sonho de serem incorporados ao exército nacional foi morrendo no corpo e na alma dos voluntários que defenderam a pátria. A vitória passou a ser um problema a ser resolvido com o abandono dos heróis a fragmentação das unidades e procedendo a desmobilização geral. D. Oba, ferido na mão direita, se retira do serviço ativo e reivindica seu sustento ao imperador do escrevendo:
Atendei, Senhor, em vossa imperial munificência, aos justos reclamos deste soldado, que também ouviu em tempo os gritos pungentes da aflita pátria...Ele pede simplesmente as honras do posto que serviu e uma pensão correspondente.
Candido da Fonseca Galvão
                        Imperador, 1872

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A Escola como espaço transformador

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Estamos vivendo um tempo de conflito, reflexão e subversão, que vão tocando fundo a sensibilidade do povo brasileiro. Estamos diante da probabilidade de mudanças significativas no tratamento com a vida, com a história, com a política nacional e convivência com a nossa cultura que é afro-brasileira e que vivemos mergulhados sem nos dá conta da sua presença estruturante. Estamos lutando por uma liberdade que se constrói ainda impregnada de dor, desmontando ideias e construções históricas arraigadas.

Decerto que buscamos a transformação urgente da sociedade, o que acontecerá também a partir do movimento interno de cada um. Trata-se, entretanto, de um momento singular que suscita mudança paradigmática na relação entre o povo brasileiro e o papel transformador e decisivo da educação de nossos jovens e crianças. Importa o compromisso para criação de uma sociedade nova impulsionada por outras configurações organizativas em forma de redes, alianças sociais e solidárias.

Entendemos que é justamente desta perspectiva que deverá nascer a semente para o sentido de educação na vida. Esta é uma dificuldade sem tamanho pelo enigma que é selecionar o que é indispensável para que indivíduos sejam educados também na alegria e nas Relações Étnico Raciais aprendendo a conviver relacionando saberes, exercitando a condição de sujeitos éticos, coletivos e solidários. A escola precisa de solidariedade, afeto, alegria e emoção no seu currículo. Emoção para a arte de aprender e a arte de ensinar com alegria. Ensinar incluindo a arte e cultura é cultivar a emoção de saber-se quem é. É considerar o pensamento africano recriado na diáspora refazendo caminhos de celebrações, incluindo as diversas linguagens das artes e das manifestações culturais do lugar. As manifestações culturais são como legados da ancestralidade africana, impregnadas de comportamentos coletivos que reúnem memória e história de liberdade do povo negro

É prática nas comunidades, principalmente nas comunidades quilombolas festas que reúnem criando encontros e renovando o ânimo e a alegria de viver. São momentos criados por um calendário que conta as histórias do lugar. Tem festa para São Benedito, festa para Nossa Senhora do Rosário, festa dos Santos Reis, de São Benedito e festa do padroeiro de cada lugar. Festa da Barquinha que é uma celebração para Iemanjá, samba de roda, festa de São João, de Santo Antônio, de São Pedro e muita roda de capoeira. Pelo Brasil afora tem Jongo, Zambiapunga, Congo, Congada, Tambor de Crioula, Maracatu e muito mais. A questão é incluir tudo isto no currículo e transformar em aprendizagens significativas.

Por: Vanda Machado

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